Sela


Pintura con polvos

Matriz
Matriz

Mitografismo de la mandioca
Mitografismo de la mandioca

Mitografismo de la mandioca
Mitografismo de la mandioca






































Conferencia pronunciada la víspera de recibir el Príncipe de Asturias de las Artes de 2003

Miquel Barceló

Terra, carne e pele

Um mundo primitivo, ainda não criado em que se veem os poderes tremendos da natureza em constante movimento de criação e destruição; uma paisagem arrebatadora de um mundo sem fronteiras se apresenta no meu espaço pictórico, simultaneamente abstrato e figurativo. Abordo a superfície também na horizontal com acrílicas e terras coloridas; meu corpo voltado para a tela se sente mais próximo da pintura e, portanto, da terra.

Minha estética está relacionada à percepção da terra como matéria, origem e fim, efemeridade da vida sempre em movimento, uma visão que vibra com a mesma frequência do romantismo do início do séc. XIX, na obra de Caspar Friedrich e com a obra do expressionista abstrato Mark Rothko, que viam o aspecto sagrado no meio natural.

Certamente que o alvoroço tecnológico e mecanicista na arte contemporânea não me passa despercebido; na atualidade, a arte midiática, eletrônica, é o padrão, sem dúvida; mas não creio na eficácia de um discurso crítico que usa a mesma linguagem ou técnica do que pensa criticar. Por isso uso a matéria e técnica que uso e porque tenho escolha. O centro do ser está agora no exterior, no establishment da máquina, a relação do indivíduo com o mundo, com o meio natural que o sustenta está sendo filtrada, mediada por meios mecânicos numa quantidade e velocidade vertiginosas; os cinco sentidos são nossa forma de nos comunicar com o meio natural mas são atrofiados e sufocados pela voragem eletrônica! A crueza da pintura matérica de Tàpies e de Miquel Barcelò me faz vibrar toda a fibra, toda a carne, já que a terra está intimamente ligada à carne e à pele: são materialidade.

Com minha pintura o espectador vai para as entranhas da terra, onde tudo é só elemental, num processo de interiorização, de acolhimento em si mesmo produzindo um movimento oposto ao do cientificismo e ao do mecanicismo exacerbado que puxa a atenção do ser para fora dele mesmo, deixando o bagaço sem centro.

Prefiro viver num mundo vivo, vigoroso, do que no ambiente artificial que o industrialismo do lucro impõe à criatura humana: o vínculo entre homem e natureza é indissolúvel.

Sela

2010



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