Sela


Galeria 1

Vida
Vida

Tartaruga marinha
Tartaruga marinha

Octopus
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Surf
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Salve Sangô!
Salve Sangô!

Pintura cooperativa
Pintura cooperativa

A serpente serve a taça
A serpente serve a taça

Mater's Iguazu
Mater's Iguazu

Mater's Acqua
Mater's Acqua

Mater's Até que um dia você não se ache mais importante
Mater's Até que um dia você não se ache mais importante

T pastel
T pastel

Carpas
Carpas

Piscis 13
Piscis 13

Bromélia Guzmania
Bromélia Guzmania

Bromélia Aechmea Fasciata
Bromélia Aechmea Fasciata

Bromélia Tillandsia
Bromélia Tillandsia

Primitivo
Primitivo

Mater Flechas 12
Mater Flechas 12

Mater Flechas 11
Mater Flechas 11

Mural Margen
Mural Margen

Mater's De leite e de mel II
Mater's De leite e de mel II

Mater's 7
Mater's 7

Mater's Sulphur S 16
Mater's Sulphur S 16

Mater's Diâmetro
Mater's Diâmetro

Mater's Chiao
Mater's Chiao

Mater's Shen
Mater's Shen

Mater's T
Mater's T

Mater 8
Mater 8

Mater 9
Mater 9

Mater 10
Mater 10

Abre o mundo 3
Abre o mundo 3

Sudários do Mangue A
Sudários do Mangue A

Abre o mundo 1D
Abre o mundo 1D

Mater's Chiao
Mater's Chiao

Flechas Ígneas - Placas
Flechas Ígneas - Placas

Pegada
Pegada

Gulliverização e nanotecnologia

Sela

No meu fazer artístico encontro semelhanças com a obra do filósofo do imaginário Gilbert Durand, mais especificamente em As Estruturas Antropológicas do Imaginário* em que ele propõe uma classificação antropológica das imagens com base em arquétipos coletivos e os agrupa em dois Regimes do Imaginário: o Diurno e o Noturno. Durand considera a imagem no seu caráter simbólico e aplica o Trajeto Antropológico, um dispositivo para o estudo da imagem que abarca tanto a subjetividade do ser quanto os influxos do meio. Nessa obra, concretamente dentro da estrutura do Regime Noturno Místico da Imagem, o autor apresenta os símbolos que caracterizam o matriarcado (o retorno à mãe, o retorno à terra), os processos de miniaturização ou gulliverização (a valorização do átomo, a intimidade da substância); aparecem a terra, a água, o movimento da descida, a eufemização (a queda se torna lenta descida); defende que o átomo, essa porção mínima, é capaz de promover as transmutações mais importantes; que o atomismo é um processo de gulliverização e, assim como a alquimia, é substancialista. Igualmente percebo traços de semelhança com as novas pesquisas científicas acerca do átomo, como leva adiante a nanociência, que desenvolve tecnologias — a nanotecnologia — com o potencial de criar a partir do menor: é a engenharia molecular criando novas coisas, nas mais diversas áreas de aplicação, a partir do átomo.

A seguir cito algumas passagens da obra referida:

[...] os processos de gulliverização não passam de representações por imagens do íntimo, do princípio ativo que subsiste na intimidade das coisas. O atomismo — essa gulliverização com pretensões objetivas — reaparece sempre, mais cedo ou mais tarde, no panorama substancialista, ou melhor, uma teoria dos "fluidos", das "ondas" escondidas e constitutivas da própria eficácia das substâncias. [...] Porque é a interioridade "superlativa" que constitui a noção de substância. "Para o espírito pré-científico, a substância tem um interior, melhor, é um interior", e o alquimista, como o poeta, só tem um desejo: o de penetrar amorosamente as intimidades. Esta é uma conseqüência do esquema psíquico da inversão: a intimidade é inversora. Todo invólucro, todo continente, nota Bachelard, aparece com efeito como menos preciso, menos substancial que a matéria envolvida. A qualidade profunda, o termo substancial não é o que contém mas o que é contido. (p. 257)

Subterrânea

No poema Subterrânea, de 2010, se pode perceber o processo de miniaturização, de inversão, de eufemização, a queda tornada lenta e prazerosa descida, o retorno à terra, o fruto, a transubstanciação...

Poema: Subterrânea

Poem: Underground

Nestas operações sonhadas, das quais o sal e o ouro são os substantivos, unem-se intimamente os processos de gulliverização, de penetração cada vez mais fina, de acumulação, que caracterizam os simbolismos da intimidade profunda. Toda química é liliputiana, toda química é microcosmo e, nos nossos dias ainda, a imaginação maravilha-se ao ver quantas gigantescas realizações técnicas são devi-das, originariamente, à minuciosa e mesquinha manipulação de um sábio, à meditação secreta, perseverante, de um químico. Haveria, a este propósito, muito a dizer sobre a significação primeira, etimológica, do átomo. O átomo é, de fato, imaginado antes de mais como inexpugnável e indivisível intimidade, muito antes de ser o elemento que o atomismo faz intervir no seu puzzle. A alquimia é ainda mais francamente substancialista que a química moderna impregnada de física matemática. A gulliverização funciona aí plenamente porque é no ínfimo que reside a potência da pedra, e é sempre uma ínfima quantidade que é capaz de provocar transmutações cem mil vezes mais importantes. (p.263)

É que há na estrutura mística, como mostramos a partir de exemplos concretos de imaginação, uma reviravolta completa dos valores: o que é inferior toma o lugar do superior, os primeiros tornam-se os últimos, o poderio do polegar vem escarnecer a força do gigante e do ogro. (p. 276)

Mas quem diz microcosmo diz já minimização. Os atributos "suave", "morno" vêm tornar esse pecado tão agradável, constituem um meio-termo tão precioso para a eufemização da queda, que esta última é travada, amortecida em descida e, por fim, converte os valores negativos de angústia e medo em deleitação da intimida-de lentamente penetrada. (p.202)

É o que explica, de um modo mais geral, que o sentimento da natureza e a sua expressão pictural, musical ou literária seja sempre misticidade: a natureza "imensa" só se apreende e se exprime gulliverizada, reduzi-da — ou induzida! — a um elemento alusivo que a resume e assim a concentra, a transforma numa substância íntima. (p.278)

* Ed. Martins Fontes, 1997.



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